sábado, 8 de outubro de 2011

Check-in no Cambodja

Mercado em Siam Reap.
Saímos do Laos com saudades e entrámos no Cambodja amuados. Foi uma decisão nossa sair do Laos, mas havia uma ligação quase patriótica que nos mantinha ligados. Ficámos como crianças irritantemente embirrentas, quando lhes tiram algo que gostam muito e lhes metem outro algo à frente à espera que se contentem com a substituição. Para nós não era Same Same, o Cambodja era bem different. Por isso olhámos para o Cambodja de lado, desconfiámos da sua hospitalidade forçada. Resistimos à sua beleza e enaltecemos todos os seus defeitos. Não fomos justos com o Cambodja e já só no final, antes de sair para o Vietname, é que nos deixámos render. Aí convenceu-nos de que também pode ter o seu je ne sai quoi de diferente e especial.

O inglês asiático.
Mercado em Siam Reap.
Mercado em Siam Reap.
Logo para começar correu mal. Vimo-nos mergulhados num dos scams (esquemas) tão populares no Cambodja. O esquema foi o seguinte: ainda no Laos comprámos bilhete de autocarro para nos levar a Siam Reap, Cambodja. Quando esperamos pelo mesmo, uns senhores cambodjanos entregam-nos uns papéis de pedido de visto para preenchermos. Depois pedem-nos os passaportes. Na fronteira, nem precisamos de sair do autocarro, um senhor da alfândega entra e com um sensor, encosta ao nosso pescoço para detectar se temos febre (?). De resto é só esperar. Para isto pagámos mais 5$. Ou seja, tratam das nossas coisas mas pagamos. Uma espanhola que conhecemos recusou-se a pagar. Resultado, teve de ir sozinha para a alfândega e quando tinha dúvidas, ninguém a ajudou. Mas safou-se e não gastou mais 5$. Aqui, se não entras nos esquemas, não facilitam. Mais tarde trocamos de autocarro (bem diferente do que venderam, mas está bem). No caminho, um cambodjano começa, muito subtilmente, a aconselhar-nos uma guest house, com folhetos, "very good, very cheap, with swiming-pool and TV, only 7$". Chegamos a Siam Reap quase à meia-noite e o mesmo cambodjano trata logo de nos arranjar um tuk-tuk, o único disponível, naquela noite. Lá vamos mas dizemos que queremos ir para o centro, ele diz-nos que nos leva à guest house e se não gostarmos leva-nos para outro sítio. "Ok, vamos lá ver isso..." Pelo caminho saímos de uma avenida principal e mete-se numa rua mais estreita e praticamente sem luz. Começamos a desconfiar. "Para onde é que este nos está a levar...ai ai ai" Bem, suspiramos de alívio quando vemos um hotel iluminado. Chegamos à recepção e claro que o preço já não eram os 7$ mas antes 8$, mínimo. A escuridão lá fora e o tardio das horas fez-nos ceder. Ok, ficamos hoje, amanhã logo se vê. Passados 5 mins, chega outro tuk-tuk com 3 estrangeiros que tinham vindo connosco no autocarro. No dia seguinte, pessoal que tínhamos conhecido nas 4000 ilhas no Laos, também estavam no mesmo Hotel!! Portanto, um grande cartel de máfia de tuk-tuks e hotel, onde toda a gente vai parar ao mesmo sítio!! Para sermos sinceros, a piscina até soube bem e o reencontro com as pessoas que já tinhamos conhecido também, mas ao 2º dia já não podíamos compactuar com a máfia tão transparente que geria o Hotel e decidimos ir para outro onde estava o nosso companheiro Chintan. Este hotel bem melhor, birmanês, com empregados tão amáveis que nos faziam sentir em casa, contrastava drasticamente com o anterior, com empregados trombudos aos quais pedir uma bebida significava provocar uma reacção fastidiosa de como quem diz "you're not wellcome"! Ficámos felizes por deixar a máfia.
Mandalay Guest House, teriam de ser da Birmânia para serem simpáticos.
Siam Reap, Cambodja.
No caminho de autocarro, reparamos na paisagem, o Cambodja parece uma panqueca, de tão plano que é. À noite, observamos lâmpadas de luz negra espalhadas pelas bermas da estrada e pelos campos. Fica tudo iluminado. Perguntamos o que são e qual a sua finalidade. O cambodjano responde-nos que servem para apanhar insectos, que quando são atraídos pela luz, batem no plástico que está adjacente à lâmpada e caem num reservatório de água que está por baixo, ficando presos e servindo como iguaria nacional. Confirmamos as iguarias num restaurante onde parámos para jantar. A quantidade de baratas e afins voadores faziam com que fôssemos tabela de pin-ball! Como jantar, para além de arroz e outros pratos com vegetais e carne, também haviam baratas, grilos e afins fritinhos para perder o apetite. Blanhc! Perdemos logo a vontade de jantar.


Blhaaaaarccc!
Perguntámos o que era mas não conseguimos pronunciar!!
Uma abóbora sorridente.
Muitas Bananinhas.
Mercado.
Mercado em Siam Reap I.
Menino cambodjano enquanto comia um fried rice.
Depois do fried rice que lhe oferecemos em vez de comprarmos recuerdos.
O Cambodja é um país de contrastes, de antónimos, em que o fosso entre ricos e pobres aumenta de dia para dia. Percebemos isso também quando lemos no guia que a corrupção é um dos maiores problemas do país. Andamos pelo centro de Siam Reap à noite e vemos luzes, néons, restaurantes, grandes hotéis, grandes lojas, grandes carros. Andamos 5 mins a pé para fora do centro e entramos na escuridão total, parece que entrámos num país diferente. Mais tarde em Phnom Penh, o Eric, um couchsurfer americano que nos acolheu em sua casa, diz-nos que o Cambodja é um dos países com a electricidade mais cara do Mundo. Por isso as cidades são muito pouco iluminadas.
Fish massage.
Peixes Queratolíticos.
No Cambodja nota-se mais dinheiro, facilmente visível nos SUV's que até brilham de tão novos que são, nas casas mais elaboradas e adornadas, mas também reparamos no oposto, na falta dele, nas crianças e adultos que pedem na rua a toda a hora e no lixo que se amontoa em qualquer esquina. Aqui há lixo por todo o lado, não há caixotes do lixo, ver um cambodjano a deitar um saco de plástico para o meio da rua é a atitude mais comum e natural que se vê. A passagem do kipp (moeda do Laos) para o dólar faz disparar os preços, obviamente. Tudo tem como base o dólar e, mesmo havendo a moeda própria no Cambodja, o riel, o dólar tem muito mais valor, os riels são peanuts, para o turista só vai em dólar! Portanto para os khmer (cambodjanos), aquele que não tem olhos em bico, não é moreno nem se veste de pijama, fica considerado uma caixa de multibanco. Com a diferença de que o dinheiro da caixa multibanco nunca é deles, mas será sempre para eles. A observação generalizada do pijama foi outro ponto de interrogação: camisa e calças de algodão, aos ursinhos, aos cachorrinhos, com luazinhas, umas nuvenzinhas, amarelinhos, vermelhões, azulinhos bebé, padrões oníricos espalhados pelas ruas, principalmente no género feminino e crianças. Beliscamo-nos porque pensamos que estamos a sonhar. Mas não, aqui adoptam o sistema prático e confortável do pijama como indumentária corriqueira. Será que é para não terem trabalho quando se levantam da cama?, questionamo-nos. Mas a verdade é que os orientais do Sudeste Asiático raramente exibem odores desagradáveis, mesmo nos autocarros nunca nos apetece tapar o nariz, eles preservam bem a sua higiene e como está sempre bastante calor, tomam banho várias vezes por dia. Será que é porque tem padrões tão "fofinhos e kitch" que faz o género feminino perder-se de amores? Ficámos sem perceber os pijamas, mas derretemo-nos com essa diferença cultural.

Os pijamas famosos.
Os dias seguintes percorremos os templos de Angkor de bicicleta e fugimos aos tuk-tuks que cobram bom preço para nos levar o dia inteiro como chauffers. O Cambodja estava a ser difícil, mas os templos de Angkor trouxeram uma lufada de riqueza histórica.

Não há piranhas, podem mergulhar os pézinhos.
O Ronaldo, sempre presente.
Patas esticadas.
Coco loco
Mango shake.

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