sexta-feira, 22 de abril de 2011

Indie & Clau em busca do Bumbun Perdido

A vontade de percorrer caminhos no meio de uma floresta tropical era ambiciosa: queríamos chegar a um abrigo a 11 kms do ponto de partida, a pé, com mantimentos pesados às costas e envolvidos por uma temperatura quase irrespirável. 

Barco no qual subimos o rio Tembeling até Taman Negara.
 
Tinhamos chegado à floresta Taman Negara ainda na Malásia, um parque florestal repleto de fauna e flora selvagem que prometia ser um deleite aos nossos tão desejados trekkings. Após 3h de viagem pelo rio Tembeling, chegamos a Kuala Tahan, uma mini povoação do outro lado do rio e do parque, em cuja margem se avistavam restaurantes flutuantes e mais acima, casas descaracterizadas ávidas de turismo que sustente as suas vidas.

Um ligeiro briefing à entrada oferecia-nos uma panóplia de actividades de trekking com guias. Mas nós não queríamos o pacote típico do turista que tem de ir em grupo para todo o lado, e estar sujeito aos tempos e esperas e...
Atenção, olhem todos para aqui...!”
Ahhhhh” e
Cuidado todos acoli...”
Ohhhhhh”.

Portanto, queríamos ir com tempo e poder usufruir da paisagem sem ter condicionantes. O guia dizia que era perfeitamente possível, a Raquel que já lá tinha estado, também, por isso mantivemo-nos resistentes, mesmo após ouvirmos a resposta óbvia de um guia de uma empresa turística: 
 
Yeah, of course, you can go by your own. Where do you want to go?”
Til Bumbun tahan.”
Ohhhh, very far away...”
Are there signs for us?”
Yeah, sometimes you have signs, other times not, because the elefants took them.”
Really?”
Yeah, and be carefull about the rats, they'll eat your food, in the night, specially at midnight, is when they all come along!”
Really?”
Yeah, and look out the tigers as well, and Good Luck!”
Thank you! Bye!”

What the fuc...?? What was this guy telling about? Was he trying to scare us? Of course he was! He just want to sell his trekking trips! Fuc... morone!

Dia seguinte, dirigimo-nos ao departamento de Vida Selvagem do Parque Florestal. O ambicioso Bumbun (abrigo) a 11 kms já estava completo, não poderíamos lá ficar, apenas restava um Bumbun mais perto, o Bumbun Tabing a apenas 3 kms que se fazem bem numa hora e meia, duas horas, segundo a opinião do especialista. E já agora, aproveitámos para desfazer os mitos criados na noite anterior:

Are there any tigers to attack us?”
Ahahahah.. yeah, there are tigers, but they won't attack you, they aren't arround here, more far away.”
Suspiro profundo...
Because there was this guy who told us this...”
Well, I don't know what to say.”
And do we have signs all the way, so we won't get lost?”
Of course, you won't be lost, believe me. And there's no malaria here, only jungle mosquitos!”
Do we have to be carefull with our food, because of the rats?”
Yes, you just put your food hanged somewhere so they can't reach it. And attention, you don't have Mac'Donalds there, so bring enough food and water!”

Seguimos caminho, bem mais confiantes e felizes por irmos fazer um trekking no meio de uma floresta tropical! E que beleza natural... árvores enormes, com raízes superficiais que se desdobravam em degraus, e com copas esvoaçantes que providenciavam uma sombra calmante à temperatura infernal que se fazia sentir. Os trilhos são tão apelativos, apetece percorrê-los e pensarmos que estamos num conto sobre uma floresta. No início, tudo nos fazia parar: olha ali, uma coruja! Olha aqui, um lagarto gigante!!! Olha, nem reparaste, uma centopeia! Ouviste o barulho? O que seria...? Os sons da floresta são tão intensos. Pássaros e insectos competem entre si para se fazerem ouvir. Sons agudos e dissonantes... uns lembravam toques de telemóveis, outros jogos de computador, alguns trombetas de uma mesquita e ainda outros uma autêntica serralharia! Uma verdadeira inspiração à criação de novos sons.

No meio de uma raiz enorme.

Chegámos ao abrigo e ainda tinhamos tempo para andar mais uns kms, por isso, descansámos um pouco e seguimos caminho mais a Norte.
Entretanto já tinhamos lido sobre as sanguessugas presentes no parque, quando o Pedro reparou num bicho fininho, agarrado a uma folha, com a outra ponta frenética como se fosse uma antena. Era uma sanguessuga!
Pensávamos que era suposto serem tipo lesmas, mais achatadas, gordas, e pretas, mas as daqui não são assim. Mais à frente, vamos fazendo o “check-up leeches” e reparamos que já estão nas nossas meias! Andávamos 10 min e lá estavam outras. Incrível como conseguiam trepar pelos nossos sapatos tão eficazmente. Pfff, que desassossego, percorremos os restantes kms a olhar constantemente para o chão e pés e a removê-las sempre que eram detectadas.

Voltamos ao abrigo, ainda temos duas horas de luz natural. Os abrigos aqui não têm luz, por isso tivémos de levar os nossos frontais. Também não têm janelas, o que me estava a deixar ficar ligeiramente apreensiva, confesso. Qualquer animal poderia entrar a meio da noite sem ser convidado!! Fomos preparar os nossos aposentos com a rede mosquiteira para não termos surpresas durante a noite e podermos dormir mais descansados. Quando pensávamos já estar livres das sanguessugas, eis que sinto uma comichão no braço, removo sem olhar um animal mole e eis que era outra sanguessuga que já me estava a fazer transfusão sanguínea no braço! Comecei a ficar paranóica e só via sanguessugas por todo o lado...


O Bumbun encontrado!

A luz começa a escassear. Na penumbra os sons ganham outra dimensão tímbrica, mesmo durante a noite, há animais que não dormem e a banda sonora apesar de espectacular dificulta o sono. A total ausência de luz e a rigidez do beliche também ajudam a fomentar a insónia. É tão fora da nossa zona de conforto. Não há nada, nenhum sinal de civilização, nenhum sofá acolhedor, nem uma televisão que faz companhia. Somos nós e a floresta lá fora, e alguns animais intrometidos e atraidos pela nossa luz, cá dentro. Sensações novas, não de perigo, mas diferentes, provocadas pelo alheamento, por algum desconforto, pela paranóia de que as sanguessugas estão em todo o lado e vão-nos sugar!, deixaram-me em alerta constante. O Pedro tenta confortar-me, segurando-me na mão. Passados 5 segundos adormece, ferrado com o sono mais pesado do Mundo! Mas no final, o corpo deixa de resistir, rende-se ao cansaço provocado pela caminhada e tudo se esvai e recolhe no meio de um sono sobressaltado e inconstante. Que bom que é amanhecer!

5 comentários:

  1. Inveja!!!! É o que posso dizer neste momento, sim, sim e tal as sanguessugas... que inveja!!! Bjinhos grandes aos dois e continuação de boas e novas descobertas!

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  2. Adorei o vosso post!!! Que aventura que tiveram!!! Inesquecível e cheia de coisas novas!! Aproveitem muito descubram esse Mundo novo! Mas cuidado com as sanguessugas Inha!!Beijinhos enormes!
    Continuem sempre a escrever-nos ;)
    Saudades gordas

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  3. Cláudia o teu relato é como aqueles filmes que não podemos deixar de ler! Fiquei mesmo cheia de vontade de ir aí e partir à aventura, apesar das sanguessugas! Um beijinho aos dois.

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  4. WHAT.... NO MCDONALDS IN THERE????"
    Brutal... fiquei com inveja

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  5. Bem que aventura!!! sanguessugas é que já não me parece tão divertido mas é uma boa historia para contar e o vosso relato da conversa é genial =). Adoro o blog

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